quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Every day is Ashura, and every land is karbala!

Prophet Muhammed wept for Hussain when he was a small boy, aware of the events to befall his future. He famously said: "Hussain is from me and I am from Hussain!"


 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A mesma Lua


                 Autoria de Cristina Duarte (1999)  

A mesma Lua

Estacionei o carro no espaço apertado, mas o que dizer no trânsito da cidade, estava atrasada como sempre. Peguei na carteira e os sacos de papel, com o material que tinha comprado, para a minha loja, no dia anterior, sai carregada do carro e quando fechava a porta fui atropelada… dada a proximidade com que estacionei da paragem do autocarro… mas não fui atropelada pelo veiculo, mas sim por um passageiro que desceu do mesmo…

Espatifei-me no chão…os quilos que tinha a mais no corpo, amorteceram-me na queda, mas nem por isso não doeu menos no “rabo”; o homem visivelmente atrapalhado com a caricata situação apressou-se a apanhar as sacolas e  a dar me uma mão para me levantar, eu estava envergonhada, olhando em redor para ver se tinha espectadores daquela triste aventura, logo pela manhã…

Olhei-me pra ver se se notava o tombo, o homem perguntava-me insistindo se eu estava magoada…ao retomar os sacos de suas mãos, disse-lhe para desdramatizar o sucedido:

- A lua não está no sitio certo?!!

- Como diz? Disse o homem com um ar apavorado.

- A lua não está no sítio certo…pois senão, não seria atropelada por si!

            - A menina tem que me dar o seu contacto! Tenho um amigo que vai querer conhece-la.

Eu com 35 anos perante aquele comentário, caiu que nem manteiga numa fatia de pão acabado de torrar, ou como uma colherada de chantilly num morango fresco.

            - E porque razão lhe daria eu o meu numero de telefone?

            - Irá gostar de descobrir!

O dia estava tão estranho que decidi acompanhar, dei o contacto, sem mais conversa e não pensando mais naquela situação irreal.

 

A loja estava cada vez mais bonita e atraia mais e mais clientela, o que era óptimo para as minhas finanças. Desde que tinha ficado viúva, a vida tornou-se difícil para mim, a abertura da loja era um sonho antigo, que só foi possível quando recebi a indeminização do acidente mortal, que vitimou o meu jovem marido. As minhas amigas insistiram tanto que fui praticamente obrigada a fazer-me ao negócio, e estava muito satisfeita por isso. Havia já alguns anos que me dedicava as cartas de Tarot, por hobby, mas fazer disso uma carreira parecia fantasia, estava enganada poi esteva tudo a correr pelo melhor.

A marcação da leitura das Cartas de Tarot era feita de manhã, via telefone ou email. O telefone tocou e como sempre abri a minha agenda nas marcações do dia:

            - Bom dia! Fernanda Torres em que posso ajudar?

            - Bom dia Menina, é o senhor que a atropelou há 15 dias atrás.

            - Sim estou recordada, em que lhe posso ser útil?

            - Tem os seus documentos em dia?

            - Claro que sim, porque pergunta?

            - A menina aceita viajar dentro de três dias?

            - O que pretende da minha pessoa? Seja mais específico.

            - Lembra-se de lhe ter falado de um amigo que iria querer conhece-la? Pois telefonei-lhe e contei o sucedido, ele quer encontrar se consigo!

            - Nem me recordo bem o que lhe disse, nem sequer do que falamos em concreto.

            - Diga me uma morada e eu tratarei da sua viagem.

            - O quê? Onde pensa que me vai levar?

            - Ao Irão. Mas infelizmente terá de ir sozinha, ainda tenho negócios a tratar cá. Tratarei das passagens de avião, da reserva do Hotel e receberá uma verba em dinheiro.

            - Posso considerar esta proposta como um emprego temporário? É que eu tenho uma loja…

            - Sim. Sim, eu sei. Sei de muitas cosias a seu respeito, mas mais tarde lhe explicarei, volto a contacta la em breve.

 

Não é que me assuste com qualquer coisa….Mentira! Eu morro de medo de tudo e de todos, estava deslumbrada e estupefacta… Já me tinham acontecido coisas estranhas na vida, mas tudo isto era novidade!

 

            O calor era abrasador! Senti que ia deixar de respirar a qualquer momento, e as pessoas olhavam-me como se eu fosse uma extraterrestre. Perguntei com um inglês distorcido, a um guarda do aeroporto, com a morada na mão, escrita num pedaço de papel, como poderia arranjar um táxi!?

            - hguhojpo kliwwd´l wsogstsg djswys dedidhe.

Sai das instalações furiosa e com uma angústia a invadir-me a alma.

Sentei-me na mala, e quando procurava na carteira um lenço húmido para me refrescar, senti umas mãos agarrarem-me com determinação, pelo braço e fui puxada para dentro de um automóvel, enquanto outro individuo pegava na minha bagagem e a meteu ao mesmo tempo em que fui obrigada e já aos gritos, a entrar naquele carro que arrancou em alta velocidade…

Eram homens vestidos de preto, com toucas encarnadas nas cabeças, trajavam calças e saias, tinham a pele dos rostos e das mãos queimadas do sol, e falavam entre si, com o mesmo dialecto do guarda, olhavam me e davam risadas.

Nem conseguia pensar…Será que eu teria sido raptada?! O medo e o pavor foram tão grandes que perdi os sentidos.

 

            Abri os olhos estava dorida e cansada, não me conseguia mexer; eis que despertei realmente e senti os pulsos e os tornozelos apertados, quando olhei vi que estava de pé, mas atada de pés e mãos…o compartimento era grande e escuro e só um buraco na parede, no fundo da sala, deixava entrar um foco de luz solar que era a única iluminação, para toda aquela área.

            Gritei… Gritei em inglês, em Francês, em Português e gritei de medo… eis que a meu lado se coloca um homem, vestido semelhante aos indivíduos do carro, olha-me demoradamente e ri …Perguntei lhe em inglês o que eu fazia ali?! A resposta foi uma longa frase, da qual nada percebi. Gritei. Gritei com toda a pouca força que ainda tinha… Ele voltou-se num movimento rápido, esbofeteando-me num só golpe. Senti o maxilar mover-se de lugar, a cabeça virou noutro sentido e uma dor intensa.

Só sentia dor. O peso do corpo suspenso nos pulsos, faziam-me sentir uma tonelada de desconforto. A minha faca ardia da potente bofetada. Já não gritava, sentia-me desfalecer. Não conseguia pensar.

 

            Percebi que me olhavam, tentei levantar a cabeça, mas não consegui…

Teriam passado horas, eu estava exausta, voltei a tentar, mas o pescoço estava inerte…senti uma mão no meu queixo, que me levantou a cabeça de uma só vez, provocando-me uma dor excruciante…era o mesmo homem…agora parecia me ainda mais ameaçador e feio.

            - koi ftres poinned maaneryy.  

Largou-me a cabeça e deixei-a tombar, sem força, provocando novamente prolongada dor. Adormeci.

 

            Quando acordei não sentia o corpo, levantei os olhos e consegui ver três ou quatro homens, a falarem entre si, um deles percebendo do meu despertar, aproximou-se. Tomou em suas mãos com delicadeza, a minha face, examinando-a; os outros aproximaram-se e eis que reconheci o “feio”, instintivamente uma lágrima caiu-me pelo rosto empoeirado e ferido…o homem que até agora segurava o meu rosto, pousou-o com cuidado e ternura e voltando-se para o “feio” aos murros e pontapés, tão violentos, que me fizeram reagir, olhando e tentando entender o que se passaria a minha volta e porquê?!

A cena terminou com o estrondo de um tiro de arma disparada para o tecto.

A entrada de outro individuo, que trajava as mesmas roupas pretas, mas com um certo glamour… A passos largos aproximou-se dos homens em desacordo e disse uma só frase…todos saíram apressadamente da sala, menos o último…que se abeirou de mim e me olhou intensamente nos olhos, completamente arrasada pelo esforço, tombei a cabeça, estava de uma certa forma intrigada com a situação, daquele misterioso homem…


            Meu braço tombou sobre meu corpo, este caía para a frente, se não fosse a frontalidade do homem, que me segurou com firmeza, enquanto cortava as outras cordas, finalmente liberta e transportada por ele, saímos da sala escura, dando a outra divisão com luz… a claridade cegou-me completamente, e demorei algum tempo para voltar abrir os olhos, quando consegui estávamos a entrar numa porta bonita, fortemente trabalhada…ao passar por ela acariciei os contornos artesanais, tentando me apoiar. Nesse momento olhei a face do homem que me carregava, mas ele seguia em frente, sem dar atenção a mais nada…pousou-me num sofá enorme, ao debruçar-se reparei que tinha umas tatuagens no rosto, tinha uns olhos grandes, castanhos avelã muito expressivos, o seu rosto ficou muito perto do meu, e assim por instantes, mas eis que ele se levantou e saiu do quarto, fechando a porta.

 

            Dormi o sono dos Deuses. Ao despertar notei de imediato que tinham estado no quarto, pois tinha água, sabonetes e toalhas…e um cesto de comida, frutas variadas, queijos e pão, uma garrafa de leite e um ramo de flores, que eu nunca tinha visto na minha vida, mas que cheiravam divinamente.

                        Estava francamente melhor, mas a minha mente não raciocinava.

Perdi-me a examinar o espaço, os tecidos eram de cores e brilhos muito bonitos, nos cortinados e na colcha que tapava o sofá, eis que ouvi a porta a abrir, e fiquei assustada, entrou o homem das tatuagens. Parou no meio da sala, olhou-me e fez sinal para ir até junto dele, eu fui…

Eu tinha cortado do ramo algumas flores e colocado na água do banho, trocado de roupas, pois a minha bagagem encontrava-se naquele quarto, e sentia.me bem. Quando passamos a porta a luminosidade obrigou.me a tapar o rosto, mas depressa me habituei, pois a minha curiosidade era maior do que a luz.

 Após alguns passos alcançamos o murro que limitava as habitações do exterior, eis que passado o portão um mar de areia se estendia, ondulante e perdendo-se a vista no horizonte; era o espectáculo da natureza.

            Enquanto me perdi deleitada com a paisagem, as minhas malas foram colocadas a meus pés, e eu não compreendia aquilo? Para onde iria eu através daquele deserto, sozinha? De repente não me parecia de tanta beleza mas sim dos perigos que teria em enfrentar a jornada!

Uma sombra ocultou me os pensamentos, e um cheiro horrível invadia o meu espaço…um guincho animalesco fez-me voltar rapidamente: era um camelo…branco, grandioso, bonito até, mas que tresandava um cheiro inigualável naquele ambiente quente…

            O homem tatuado aproximava-se de mim a passos largos, trajava diferente, por baixo de uma capa preta, via-se um cinto em pele reluzente, cravado de armas e facas compridas; tinha a cabeça tapada com um turbante, e parte do rosto coberto, mas reconheci-o pelo olhar…

Um agrupamento de homens saia montado em camelos e cavalos carregados de bagagens, e quando reparei as minhas já estavam a ser amontoadas noutro camelo, comecei a pedir em inglês, que não carregassem aquelas, o homem tatuado olhou-me, aproximando-se de mim e num súbito movimento, erguendo-me pelo joelho, colocou me em cima do animal branco, sustive a respiração quando se colocou atrás de mim, ele tomou as rédeas e o animal elevou-se tão rapidamente e alto que nem um som emiti.

 

            O sol era intenso e muito quente, refletia-se nas areias douradas, imensas como um oceano, até eu tinha uma capa pela cabeça, o tatuado tinha-me coberto durante a viagem, não disse uma palavra, nem mexi um músculo, o movimento do animal era grande e eu tinha medo de cair.

O cansaço apoderou-se de mim, adormeci, abraçada ao grosso pescoço do camelo em marcha…

 

            Senti uma dor contínua nas costas, abri os olhos, e para grande supresa minha, estava numa sala, repleta de azulejos coloridos e bem decorados, nas janelas as molduras lindíssimas. Havia dezenas de almofadas junto a mim, sentei-me e reparei que tinha pouco mobiliário, naquele grandioso espaço preenchido com um gracioso tapete de enorme proporção.

Era dia pois a luminosidade entrava pelas cortinas esvoaçantes…

Enquanto continuava admirar o aposento, dei um salto com o susto, quando deparei com o tatuado sentado a olhar-me fixamente.

Levantei-me e aproximei-me dele, nervosa, perguntando-lhe se estava a gostar de ser indiscreto, e porque estava eu ali? Quando me encontrava bem perto dele, levantou-se ficando tão perto, que a sua respiração, soprava-me no rosto.

            - Não sei o que faço aqui? Ou porque fiz a viagem naquele horrível animal? E porque me olha assim? Não lhe deram educação? É mudo?

            - Eu falo. Tenho educação. O camelo até gostou de si. Veio de livre vontade ao Irão. O meu nome é Ahdjed!

Fiquei em silêncio.

Nem podia acreditar.

Ele falava inglês e era ele o homem que me queria conhecer.

Entrei em análise de ideias, passados alguns minutos e enquanto ele continuava a olhar-me fixamente, resolvi entrevista-lo:

            - Porque fui agredida?

            - E raptada no aeroporto?

            - E feita prisioneira?

            - Porque não disse logo que falava…

            - Pára Mulher! Pára de fazer perguntas!

Agarrando-me pelo braço, fez-me sair daquela sala, cruzando corredores e salas enormes, a passo de corrida, chegamos a uma varanda, da qual se via um vasto deserto de areias doiradas. O pôr-do-sol estava prestes a acontecer, pelos vermelhos e alaranjados do céu…

            - Sou o Príncipe de Hualdhira, herdeiro de toda esta região.

            - Fico contente por si, mas continuo a não saber porque estou aqui?

            - “A lua não está no sítio certo”!

            - Foi por ter dito essa frase que tudo isto se passou? Tenho a mania que sou poeta e depois meto-me nestas trapalhadas…

            - O meu Conselheiro disse-me há anos atrás, que só deveria casar com a mulher certa…

            - Era sábio o homem!

            - Aquela que dissesse a minha frase seria a minha mulher…

            - Deve ter ficado desiludido, não sou nenhuma Miss…

            - Os nossos espíritos é que devem permanecer juntos, seremos um amor incondicional…

            - Não me está a pedir em casamento, pois não? É que eu já casei uma vez, não pretendo repetir…

            - Nunca a vou obrigar a nada…

            - Já se esqueceu que fui feita prisioneira, maltratada pelos seus homens…

            - Eles não sabiam a importância que tinha a sua pessoa…

            - Mas ninguém merece ser assim mal tratado…

            - Considere isso um acidente! Amanhã será levada ao aeroporto, vai à sua terra vender o que possui, despedir-se dos seus conhecidos e em 10 dias terá regressado ao palácio de Gublash, onde permanecerá!

            - E se eu não aceitar a sua proposta?

            - É o seu destino. Acabará por me amar!

 

            A cidade estava na mesma, apesar das seis semanas fora, tudo permanecia idêntico: o barulho, a poluição, a correria, o trânsito e as caras sisudas. Algumas pessoas amigas pensaram que eu tinha estado na cadeia, pela prática de cartomancia. A família mais chegada deu me total apoio, fosse qual seria a minha decisão. As amigas falavam de como tinha tido sorte, em viajar, conhecido um Xá, ter sido convidada para viver lá. Minimizando os maus-tratos de que fui vitima. Defendendo o Ahdjed, que me “salvou” de tudo aquilo. Eu estava muito confusa.

Decidi ir à embaixada Iraniana, conhecer o homem responsável por toda esta aventura.

            Pediram-me para esperar numa sala luxuosa, onde tudo me fazia recordar o Irão, até que foi agradável a lembrança.

A porta de duas folhas abriu-se e apresentou-se o Mohad, o homem que me “atropelou” algum tempo atrás, criando esta confusão na minha vida.

Indicou-me o caminho para a sua sala, onde me cumprimentou muito amavelmente.

            - Responderei a tudo que me queira perguntar!

            - O que me acontece se recusar?

            - Sentir-se-á infeliz a meu ver, pelo que já sabe o que irá perder.

            - E se aceitar?         

            - Viverá em comunhão com o príncipe, onde quer que ele se encontre.

            - Mas nós não nos conhecemos, como poderá dar certo?

            - A lua vos uniu, o destino fará o resto.

            - Parece-me tudo irreal. Tenho medo e estou confusa!

            - Poderá voltar ao seu país sempre que pretender, acompanhada por um guarda, e será livre de visitar os países que bem entender.

            - Eu precisava de o conhecer melhor e saber mais coisas a respeito do Ahdjed…

Nesse momento ele entra na sala, por uma porta lateral, uma expressão de seriedade banhava-lhe o rosto, os seus olhos brilhavam intensamente, trajava de preto…

            - Que pretende saber o meu respeito?

            - Ah! Vocês não param de me assustar com estes mistérios e entradas surpresas…

            - Mohad deixa-nos a sós!

O homem saiu, fechando a porta.

Furiosa olhei-o com raiva, ao aproximar-me dele rapidamente.

            - O que és tu? Que todos te obedecem?

            - Tenho autoridade para isso! Não fiz esta viagem para me criticares!

            - Agora devias sentir o medo que eu senti…

            - Nunca tive medo de nada! Podia ter-te feito prisioneira, sem nada poderes fazer…

            - Uma opção nobre…

            - Mas senti que não era necessário…

            - Eu não estaria tão descansado…parece demasiado confiante…

            - Eu sei que casarás comigo, pois foste ao encontro do destino, quando te prontificaste a viajar ao meu cuidado…

            - Mesmo com a mágoa que me causaram quando me maltrataram n…

            - Linat mallin trats lanat ! Quando chegar ao Irão mandarei executar aquele infeliz, para que a tua dor seja vingada…

            - Nem pense fazer uma coisa dessas! Não falemos mais nisso…

Ficou um silêncio abismal na sala.

 

Ele aproximou-se.

Posicionou-se tão perto de mim, que senti o calor da sua pele, e o perfume das flores daquele mesmo ramo, com que me tinha perfumado no banho.

Olhava-me delicadamente, como que á espera de uma reacção ou resposta minha… eu já resistia a não beijar os seus lábios grossos…

            - Qual é a lua que não está no sítio certo?

Perguntou-me com uma voz tremida.

            - Eu vivo no mundo dos sonhos, a única luz que me leva para longe, é a da lua…

            Porque me resistes?

            - Qual é o nome da flor desse perfume que usas?

            - Incomoda ou agrada-te?

            - É o mesmo das flores do…

Abraçou-me e nossas bocas se tocaram levemente, transformando-se num beijo intenso e prolongado!

            - É Shafali… uma flor rara do deserto.

Afastou-se e olhou-me saindo da sala; procurei uma cadeira para me sentar, pois minhas pernas estavam frágeis…fiquei pensativa, o que estaria ele a provocar em mim?

 

 

            Os dias passavam lentamente e tudo regressava á normalidade.

O telefone não parava de tocar, e eu fazendo sarrabiscos num papel, perdida num deserto de pensamentos…

A campainha da porta da entrada tocou, insistentemente, despertando-me e fui ver quem era.

A minha amiga Helena! Tinha regressado de viagem! Abracei-a fortemente e comecei a chorar. Após alguns minutos de angústia, sentamo-nos e começamos a conversar!

            - E agora o que vais fazer? – Perguntou-me a Helena, após saber de tudo.

            - Não faço a mínima ideia! Sei que tenho medo, pois não o conheço bem, mas ao mesmo tempo tudo me fascina!

            - Deves seguir o teu coração e nunca a lógica. Já sofreste algumas amarguras nesta vida, por isso o destino quer te compensar.

            - Não sei Helena, o tempo o ditará!

 

 

 

Passaram-se dois meses e eu tentava levar a minha vida quotidiana o mais animada que conseguia.

Mas uma saudade intensificava-se… era como se o inverno se tivesse apoderado da alma, e u precisasse do sol quente do deserto.

A campainha da porta tocou, eu dei um salto da cadeira, devia ser o cliente das 15h, que já estava atrasado…

Abri a porta, qual a minha admiração, por não ser o meu cliente, mas sim o Ahdjed!

            - Posso entrar para ser consultado?

            - Sim. Pensei que já me tinha esquecido…

            - Será a última visita que lhe faço.

            - Ainda bem, pois tenho estado muito ocupada!

            - Olha-me nos olhos e diz-me que não pensaste em nós?

            - Ahdjed? Não há “nós”!

            - Não esqueceste o meu nome, é bom sinal…

            - Não me tenhas por certa, só porque ainda sei o teu nome. O que fazes aqui?

            - Quero que me leias as cartas!

            - Muito bem! Por aqui sua “majestade”!

Sentamo-nos, acendi uma vela e um incenso.

Baralhei as cartas e olhei-o nos olhos…

Que olhar profundo e provocador ele tinha, que me hipnotizava…continuava com as cartas nas mãos…

            - Será que vai parar de se distrair a olhar-me e prosseguir com a leitura…

            - Estava a captar energias…

Menti-lhe.

Joguei as cartas na mesa.

Virei lentamente, e fui explicando o seu significado.

A dada altura ele perguntou se eu era a mulher certa para ele.

            - Não têm aqui nenhuma carta que o diga claramente…

            - A “rainha” de Paus e o “rei”? E esse duque de Copas?

            - Entende de Tarot?

            - Desde a infância!

            - Então não precisa dos meus serviços…

Levantei-me e comecei apressadamente a recolher as cartas, ele pegou me pelo pulso, fazendo-me rodopiar, como se de uma dança se tratasse, abraçando-me fortemente contra o seu peito, as cartas caíram espalhadas pelo chão… Nossas bocas se uniram num longo e insustentável beijo.

 

 

 

            A noite caia no deserto.

A temperatura era agora mais agradável.

Reji trazia os belos cavalos árabes, o Black e o Snow white.

A cavalgada ao fim da tarde era uma das minhas atividades favoritas.

Olhei a minha volta para ver se encontrava Ahdjed… e quando os seus olhos cruzaram os meus, nossos lábios sorriram!

Ao chegar beijou-me com amor.

Era maravilhoso cavalgar com ele, nas areias quentes ao final de mais um dia.

 

            Desde que deixei o meu País, nunca mais sai do deserto, Ahdjed diz que me apaixonei também pelas areias sem fim.

            O nosso casamento foi uma festa linda com toda a família e amigos.

Durante o dia trato da nossa casa e ainda ajudo o Reji a cuidar dos animais.

A cada final de tarde Ahdjed regressa das suas obrigações de estado e passamos juntos, horas a admirar o deslumbrante deserto.

E é sempre feliz o reencontro entre nós!

Hoje sei o que dizem as suas tatuagens no rosto: “O iluminado da Lua” e o “Xá do deserto”.

E pensar que duvidei das coincidências que a vida me apresentou como destino!

 

 

 

 

            É um conto de Príncipes e Rainhas, que todos temos oportunidade de viver, talvez não num deserto, mas nem que seja no reino das fantasias!

 

O amor entre duas pessoas é sempre possível

Mesmo de raças diferentes

Do mesmo sexo

Diferentes idades

Peso e medida

 

É a Lei que governa o Universo!

 

E a mesma Lua que ilumina os nossos Sonhos!

 

 

 

 

Autoria de:

Chandni Cristina Oliveira Duarte

 

Data desconhecida, seguramente algures em 1999.